Meditando sobre o texto...

"Escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra." [Elena Losada Soler]

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e Textualidade.


Resumo Capítulo 1:

Texto ou discurso: ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal.

Texto: unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função identificável num dado jogo de atuação sociocomunicativa.

São elementos desse processo as peculiaridades de cada ato comunicativo, tais como: as intenções do produtor; o jogo de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro e do outro em relação a si mesmo e ao tema do discurso; e o espaço de perceptibilidade visual e acústica comum, na comunicação face a face.

Propriedades básicas do texto:

1) Contexto sociocultural – delimita os conhecimentos compartilhados pelos interlocutores, inclusive quanto às regras sociais de interação comunicativa.

2) Unidade semântica – precisa ser percebida pelo recebedor como um todo significativo.

3) Unidade formal – constituintes lingüísticos integrados, de modo a permitir que o texto seja percebido como um todo coeso.

Um texto será bem compreendido quando avaliado sob três aspectos:

1) Pragmático – funcionamento enquanto atuação informacional e comunicativa.

2) Semântico-conceitual – coerência.

3) Formal – coesão.

Textualidade – conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases.

Beaugrande e Dressler (1983) – sete fatores responsáveis: coerência, coesão (material conceitual e linguístico do texto), intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade, intertextualidade (fatores pragmáticos no processo sociocomunicativo).

Coerência: Configuração que assumem os conceitos e relações subjacentes à superfície textual. Fator fundamental da textualidade – responsável pelo sentido do texto. Envolve os aspectos lógicos, semânticos, cognitivos.

Um texto é aceito como coerente quando apresenta uma configuração conceitual compatível com o conhecimento de mundo do recebedor.

Construção do sentido do texto: produtor / recebedor.

Receptor: pressuposição / inferência

Coesão: manifestação linguística da coerência. Maneira como os conceitos e relações subjacentes são expressas na superfície textual. Responsável pela unidade formal do texto, constrói-se através de mecanismos gramaticais (pronomes anafóricos, artigos, elipse, concordância, correlação entre os tempos verbais, conjunções, etc.) e lexicais (reiteração, substituição, associação).

Reiteração – simples repetição de um item léxico ou outros processos, como a nominalização (ex: retomada, através de um substantivo cognato, da ideia expressa por um verbo – adiar/adiamento).

Substituição – feita pelos processos de sinonímia, antonímia, hiponímia (o termo substituído representa uma parte ou um elemento e o substituidor representa o todo ou a classe – ex: carroça/veículo), hiperonímia (o termo substituído representa o todo ou a classe e o substituidor uma parte ou um elemento – ex: objeto/caneta).

Associação – relacionar itens do vocabulário pertinentes a um mesmo esquema cognitivo (ex: bolo, velinha, presentes, alusivos ao mesmo evento).

Conectividade textual – interrelação semântica entre os elementos do discurso, garantida pela coerência e pela coesão

Coerência – nexo entre os conceitos.

Coesão – expressão desse nexo no plano lingüístico.

O nexo nem sempre precisa estar explícito na superfície do texto por um mecanismo de coesão gramatical. Pode ser apreendido no nível semântico-cognitivo.

Mecanismos de coesão – fatores de eficiência do discurso.

A presença de recursos coesivos interfrasais não garante textualidade.

Resumindo: o fundamental para a textualidade é a relação coerente entre as ideias. A explicitação dessa relação através de recursos coesivos é útil, mas nem sempre obrigatória. Uma vez presentes, esses recursos devem ser usados de acordo com regras específicas.

Intencionalidade e aceitabilidade referem-se aos protagonistas do ato de comunicação.

Intencionalidade: empenho do produtor em construir um discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa.

Aceitabilidade: expectativa do recebedor de que o conjunto de ocorrências com que se defronta seja um texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor.

Situacionalidade: Elementos responsáveis pela pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em que ocorre. Adequação do texto à situação sociocomunicativa.

É importante para o produtor saber com que conhecimentos do recebedor ele pode contar e que, portanto, não precisa explicitar no seu discurso.

Coerência pragmática: necessidade de o texto ser reconhecido pelo recebedor como um emprego normal da linguagem num determinado contexto.

Ex: Maria teve uma indigestão embora o relógio estivesse estragado. (Essa informação só fará sentido se o interlocutor souber que Maria sofre de problemas gástricos de fundo nervoso e que passa mal sempre que come tensa, preocupada com o horário).

Informatividade: O interesse do recebedor pelo texto vai depender do grau de informatividade de que o último é portador. Medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, no plano conceitual e no formal.

Intertextualidade: Fatores que fazem a utilização de um texto dependente do conhecimento de outro (s) texto (s).

A unidade textual se constrói:

* No aspecto sociocomunicativo: através dos fatores pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade, intertextualidade)

* No aspecto semântico: através da coerência, informatividade, intertextulalidade.

* No aspecto formal: através da coesão.

Informatividade e intertextualidade, ao mesmo tempo que contribuem para a eficiência pragmática do texto, conferindo-lhe interesse e relevância, também se colocam como constitutivos da unidade lógico-semântico-cognitiva do discurso, ao lado da coerência.

1 comentário: